"Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus. Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai. O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso fazei; e o Deus de paz será convosco."

A FALSA PAZ

Existem algumas palavras que nós usamos no nosso cotidiano e no nosso dia a dia que muitas vezes acabam ganhando um sentido diferente do significado que elas tem nas Escrituras, fazendo com que percam a sua essência ou sejam mal interpretadas quando as lemos na bíblia. Um bom exemplo disso é a palavra amor. Temos o hábito de enxergar a palavra amor como um sentimento ou um desejo, mas raramente as Escrituras mostram amor como um sentimento. Quando João diz que "Deus amou o mundo..." (Jo 3, 16) ele também diz que Deus "deu o seu Filho unigênito..." para dar vida eterna aqueles que creem nEle. O amor das Escrituras está ligado à ação demonstrada e não ao sentimento "sentido". Se Deus nos ama então ele demonstra o Seu amor entregando o Seu Filho. Quando Jesus diz que nós devemos amar os nossos inimigos (Mt 5, 44) Ele não está pedindo para que nós desenvolvamos um sentimento, uma paixão por aqueles que nos odeiam e no momento em que este sentimento for real então nós atingimos o amor por Ele desejado. O que Ele quer é que nós tenhamos atitudes de amor para com os nossos inimigos, independente daquilo que sentimos por eles. De que vale um sentimento ou um "eu te amo" expressado pelos nossos lábios se as nossas ações não correspondem a isso? São essas ações que serão vistas.

Mas hoje eu não estou aqui para falar sobre o amor. Estou aqui para falar sobre uma outra palavra muito usada por nós mas que também, assim como o amor, com o tempo acaba sendo usada e entendida de uma maneira diferente da abordada pelas Escrituras. Esta palavra é PAZ. E como a usamos em várias ocasiões: desejamos paz aos nossos irmãos quando nos encontramos com eles na nossa congregação, desejamos paz para as pessoas quando um novo ano está para começar, desejamos paz em épocas natalinas, queremos paz no nosso dia a dia, paz no trabalho, paz na faculdade, paz na rua, paz na nossa casa, etc.

Por usarmos tanto a palavra paz no nosso cotidiano é necessário que nós tenhamos em mente qual é o verdadeiro significado dado a ela nas Escrituras, pois creio que desta maneira evitaremos algumas confusões ou más interpretações. Muitas vezes temos o conceito errado de que paz seja apenas a sensação de tranquilidade, a passividade, serenidade, sossego ou qualquer coisa que demonstre que tudo a nossa volta está em harmonia conosco mesmo. Costumamos dizer que estamos em paz quando tudo está bem ao nosso redor. Se as coisas que estão acontecendo ao meu redor não tiram a minha tranquilidade nem a minha serenidade então eu estou em paz. Não que este conceito esteja totalmente equivocado, mas é importante sabermos que quando as Escrituras falam sobre a paz de Deus isto não está relacionado diretamente com as circunstâncias ao meu redor, uma vez que ela continua a existir independentemente se as coisas a minha volta estão bem ou mal.

Paz não é algo exclusivo do cristianismo. Muitas religiões orientais, por exemplo, tem o conceito deles sobre paz. Utiliza-se meios de meditação e um conjunto de exercícios introspectivos a tal ponto que as dificuldades e as lutas ao nosso redor não nos afetam mais. Uma sensação de aceitação às coisas que estão acontecendo aparece dentro de nós para, finalmente, atingimos a paz. Realizar boas obras e caridades também traz às pessoas uma sensação de paz. Quando ajudo o meu próximo uma sensação de tranquilidade e de bem estar toma conta de mim, de modo que eu me sinto em paz. Mas está paz também não é a paz de Deus. Assim como ela não está ligada às circunstâncias, a paz de Deus também não está ligada às nossas sensações.

A VERDADEIRA PAZ

Para tentarmos entender melhor isso vamos ler o que João escreve em Ap 6, 4: "E saiu outro cavalo, vermelho; e ao que estava assentado sobre ele foi dado que tirasse a paz da terra, e que se matassem uns aos outros..." Podemos ler que ao cavaleiro do cavalo vermelho foi dado o poder de tirar a paz do mundo. Quando esta paz é tirada a consequência imediata é "pessoas matando pessoas". Retira-se a paz e uma guerra começa. Portanto, vemos aqui a palavra paz sendo aplicada como o oposto à guerra. Se há paz então não há guerra. Tira-se a paz e a guerra começa.

Em uma relação entre pessoas como eu sei que estou em paz com o meu irmão? Basta analisar se existe guerra entre nós dois. Isto é o que chamo de paz relacional e ela é diferente da paz circunstancial. Ela depende unicamente da relação que eu tenho com o meu próximo. Estou em paz com meu irmão não quando tudo está bem ao nosso redor mas sim quando não existe uma rivalidade ou uma guerra entre nós dois. Creio que a paz de Deus, que excede todo o entendimento, deve ser vista da mesma maneira: como sendo a inexistência de uma guerra. Mas qual seria esta guerra e quando ela começou?

HUMANIDADE VERSUS DEUS

No capítulo 3 de Gênesis é relatada a história da primeira transgressão do homem, mais precisamente do verso 1 ao 7. Deus estipulou a sua primeira lei ao homem, dizendo que este poderia comer de toda árvore do jardim livremente, mas do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal o homem não poderia comer pois, no dia em que comesse, certamente morreria (Gn 2, 16-17). Mas o homem não deu ouvidos a lei do Senhor e comeu do fruto proibido. Se nós olharmos no verso 5 do capítulo 3 de Gênesis veremos quais foram as palavras da serpente que realmente motivaram o homem a comer do fruto: "Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal". Quando o homem comeu do fruto ele estava demonstrando o desejo dele de ser como Deus e, uma vez que sou como Deus e tenho o conhecimento do bem e do mal não existe mais a necessidade de ser dependente dEle. É neste momento que a guerra entre o homem e Deus foi declarada. Perceba que a guerra não partiu de Deus. Partiu única e exclusivamente do coração do homem. Por causa da transgressão de Adão o pecado entrou no mundo e, com isso, a separação do homem para com Deus teve início. Não apenas isso mas, por causa da transgressão de Adão, toda a humanidade se tornou inimiga de Deus (Rm 5, 10, 12). Não é muito difícil notarmos o efeito desta inimizade nos dias de hoje. Os homens se tornaram independentes, cada um vive da maneira como quer, sem se importar com a vontade ou os desígnios do Senhor. Hoje o homem deseja ser tão independente de Deus como Adão quis ao comer do fruto.

Toda a humanidade, em Adão, está em guerra contra Deus. Mas, da mesma maneira que o homem nos dias de hoje não vê nem reconhece a guerra que está enfrentando, no Antigo Testamento a humanidade tinha uma falsa sensação de paz com Deus. Esta paz era medida de acordo com as circunstâncias ao redor deles. Se Deus prosperasse a colheita, o gado, se não houvessem desastres naturais, nem pragas, nem mortes, etc, então não havia com o que se preocupar pois estamos em paz com Deus. Contudo, para os padrões de Deus, nada estava bem entre Ele e o homem e, para mostrar qual era a real situação da humanidade o Senhor entrega as suas leis ao povo, com o propósito de mostrar que todos estavam debaixo do pecado, todos eram condenáveis e que nenhuma carne poderia ser justificada por ela, uma vez que ninguém poderia cumprir a lei (Rm 3, 19-20). Ou seja, o homem deu início a uma guerra contra Deus e não havia nada que o próprio homem púdesse fazer para colocar um ponto final nela. A solução só poderia vir do próprio Deus. Somente o Deus de toda paz poderia promover uma paz que excederia todo o entendimento e acabaria com a guerra.

A SOLUÇÃO DE DEUS: UMA PAZ ETERNA E PERFEITA

Glórias a Deus porque Ele providenciou a nós a paz que excede todo entendimento e que coloca fim a guerra. Vejamos:

Que naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo. Mas agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto. Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de separação que estava no meio, na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz, e pela cruz reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades. (Ef 2, 12-16)

Amado, eu não sei qual a sensação que se passa dentro de você quando lê trechos como este em sua bíblia mas acredito que você deveria estar exultante e estasiado, com motivos para dar glórias a Deus para o resto de sua vida. Glórias sejam dadas a Deus por nosso Senhor Cristo Jesus ser a paz que excede todo entendimento! Nós estavamos separados de Deus, eramos Seus inimigos e não havia esperança alguma para a humanidade. Mas Deus, por meio do sangue do Seu Filho, nos reconciliou com Ele novamente. Pela Sua carne toda a inimizade foi desfeita e pela Sua cruz houve reconciliação nossa com Deus. Se o símbolo da paz é uma bandeira branca sendo levantada em meio a uma guerra então o Cristo ressurreto é a bandeira branca que precisavamos. Nós começamos a guerra. Mas é Deus, em sua misericórdia e infinito amor, quem levanta o Seu Filho como bandeira branca e coloca um fim a essa guerra. Se não existia esperanças para nós, se não havia como nós cumprirmos a lei do Senhor então Cristo vem, Ele cumpre a lei em nosso lugar (Mt 5, 17) e agora a paz com Deus está para todo aquele que estiver em Cristo.

Que maravilhosa esperança e segurança nós temos, amados. Não depende mais dos nossos inúteis esforços. A reconciliação veio por meio dos esforços do próprio Deus. Basta que nós tenhamos fé na obra de Cristo, e não nas nossas obras, para que tenhamos paz com Deus por meio Dele (Rm 5, 1). A nossa segurança está firme sobre as palavras de Cristo: "está consumado" (Jo 19, 30). Tudo foi feito por Ele e nada poderá tirar esta paz que Deus nos concedeu.

MAS EU NÃO ME SINTO EM PAZ

Apesar de nada mudar o fato de que em Cristo temos a paz eterna e perfeita com Deus existem algumas coisas que acontecem conosco que trazem a falsa sensação de que esta paz se foi. Contudo, Deus foi mais do que suficiente em garantir não apenas que a paz seja eterna como também que a sensação desta paz possa ser sentida em todo momento. Vamos ver as duas principais coisas que acontecem conosco que tiram a sensação desta paz e vejamos como Deus lida com isso.

Primeiro: Circunstâncias Adversas

É fácil falarmos de paz quando tudo está bem conosco, quando temos um bom emprego, quando nossos filhos estão bem de saúde, quando as contas estão todas quitadas, quando temos um lar para nos abrigarmos, etc. Mas dizer que existe paz quando um ente querido nosso está hospitalizado, quando descobrimos que temos uma doença terminal, quando nosso filho é atropelado enquanto andava de bicicleta na rua, quando estamos desempregados, etc, para muitos é quase uma ofensa. Você pode dizer que não tem como ter paz quando tudo na nossa vida vai de mau a pior. Contudo, creio que eu já tenha demonstrado que a paz com Deus independe das circunstâncias. Não apenas isso mas Deus também oferece meios pelo qual nós podemos ter de volta a sensação desta paz independente das lutas e dificuldades que estamos enfrentando.

A primeira coisa que devemos lembrar é que Deus conhece esta sensação que você está tendo. Em certa ocasião Jesus, sabendo que a sua terrível morte estava próxima, fez a seguinte oração: "Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres." (Mt 26, 39). Se nós olharmos para a circunstância ao redor de Jesus ninguém pode falar que Ele estava em paz. Na verdade Ele estava tão tenso e preocupado com a situação que chegou a suar gotas de sangue. Mas, mesmo em meio a isso, Cristo estava em paz com Deus e podemos tirar esta conclusão vendo que Ele termina a oração dEle pedindo para que a vontade de Deus se cumprisse. Uma oração assim só é possível se você realmente estiver em paz com Deus a tal ponto que você confia a Ele a sua luta e dificuldade. Percebe que a paz não está ligada ao que está ocorrendo ao seu redor? Ela está ligada ao relacionamento seu com Deus. Mas qual a confiança que Jesus tinha em Deus para poder estar em paz com qualquer decisão que fosse tomada por Ele? A mesma confiança que nós podemos ter também. Vejamos:

E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. (Rm 8, 28-29)

É esta a confiança que devemos depositar em Deus para que a sensação de paz volte, mesmo em meio as adversidades. Não importa o que acontece, não importa as suas lutas, as suas dificuldades, não importa o quão intransponível parece ser o problema que você está enfrentando. O que você precisa saber é que todas as coisas, sejam elas boas ou ruins, tem um propósito determinado pelo próprio Deus: fazer com que você seja mais semelhante a Cristo. Se você ama a Deus e sabe que foi chamado segundo o propósito dEle então confie no Senhor pois Ele desejou que você passasse por estas lutas para fazer de você um participante da obra de Cristo. Confie no Senhor e regozige-se. Ainda que você ache que as coisas não estão bem creia que Deus está no controle e que os planos e caminhos dEle são os melhores e mais perfeitos para você. Apenas deleite-se nEle e desfrute da sensação de paz novamente.

Segundo: Pecado

Outra coisa que faz com que percamos a sensação da paz que Deus nos concedeu é o pecado. É incrível a quantidade de pessoas que pensam coisas do tipo: "hoje eu não vou à igreja pois estou em pecado...", "hoje não me sinto digno de orar pois pisei na bola feio...", "sinto que Deus está longe de mim devido ao erro que cometi...", "não sinto paz em fazer este trabalho depois do que eu fiz...", etc.

Claro que devemos nos sentir mal quando cometemos algum pecado. Sabemos muito bem quando fazemos coisas que não agradam a Deus e isto é o princípio do arrependimento que todo cristão vai sentir durante a vida inteira. Mas de maneira nenhuma devemos pensar que Deus se distanciou de nós e que a paz que antes foi conquistada por Ele através da morte e ressurreição de Cristo se acabou. Como afirmei anteriormente a base para a paz com Deus não está nas circunstâncias e muito menos nas nossas obras. Tudo esta baseado no que Cristo fez, e nada mais. Acertadamente João, em sua primeira epístola, escreve para que nós não pequemos (I Jo 2, 1). Mas ele não para por aqui. Sabendo que somos falhos e imperfeitos ele diz que se pecarmos temos um advogado perante o Pai, Jesus Cristo, o justo. Ele não apenas é o nosso advogado como também é a própria propiciação pelos nossos pecados e pelos pecados do mundo inteiro (v. 2). Antigamente quando lia este trecho eu pensava que, quando eu pecava, Jesus argumentava mais ou menos assim com Deus: "Olha, Pai. Eu sou o advogado dele e estou aqui para defendê-lo. Apesar dele ter cometido esta falta olhe para o histórico dele. Veja: ele ora, jejua, lê a bíblia, faz o devocional dele certinho... Ele não é tão mau assim. Dê mais uma chance a ele...". Até um dia em que eu me atentei no fato de que Cristo é a nossa propiciação. Mas o que quer dizer isso? Significa que Jesus Cristo, o Justo, é o próprio sacrifício oferecido a Deus. São as obras dEle que aplacam a ira de Deus e não nossas. Ou seja, Jesus nos defende perante o Pai usando como argumento o fato que nós, pela fé, estamos ligados nEle e como Ele é o Justo nenhuma condenação há para os que estão nEle. Glórias a Deus por isso! A obra de Cristo resolve o problema do pecado em nós de, no mínimo, três maneiras diferentes:

Sangue: o sangue derramado por Cristo na cruz é o sangue para a remissão dos pecados. João diz que este é o sangue que nos limpa e purifica de todo pecado (I Jo 1, 7). Quando ele diz "todo pecado" ele está falando de todos os pecados que você já cometeu na sua vida, de todos os pecados que você possa estar cometendo neste momento e de todos os pecados que você eventualmente cometerá no futuro. Portanto, independente do pecado que você tenha cometido creia que o sangue de Cristo te purifica de todos eles e permite que você esteja em paz com Deus.

Cruz: nós em Cristo e Cristo na cruz é o que mata e destrói o desejo interno que o homem tem de pecar. Enquanto o sangue resolve o problema dos pecados que cometemos, a cruz soluciona a raiz do problema: o velho homem, ligado em Adão, que desejava o pecado. E qual é a função da cruz para o velho homem? Ela serve para matá-lo. Uma vez que o velho homem que desejava o pecado é morto não precisamos mais servir ao pecado e somos livres desta escravidão (Rm 6, 6). Então, Cristo não apenas resolve o o problema dos pecados que você cometeu como também faz com que você não deseje mais cometê-los.

Um novo coração: bastaria uma revelação do poder do sangue e do poder da cruz para que nós pudéssemos descansar em Deus, sabendo que nada pode nos separar dEle e que nada pode acabar com a paz que Ele conquistou para nós. Mas Deus foi além disso para resolver o problema do pecado. Com o sangue Ele nos purifica dos pecados. Com a cruz Ele acaba com a nossa vontade de pecar. Contudo, pode ser que antes da nossa conversão nós tivéssemos alguns pecados que eram habituais, coisas que faziamos com frequência, sem nos importarmos com isso. Assim que nós nos convertemos e entendemos a mensagem do evangelho nossa mente é mudada, nosso desejo é mudado e passamos a odiar o pecado. Mas algumas vezes um problema persiste: o fato do nosso corpo ainda estar habituado ao pecado e não conseguimos largá-lo tão facilmente. Ainda que eu não queira e ainda que minha mente não deseje o meu corpo está vicíado no pecado e ele é teimoso. Então é necessário que Deus faça alguma coisa com relação ao corpo habituado em pecar. E Ele fez. Vejamos o que Paulo diz em Filipenses 4, verso 8:

"Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai."

Lembra da parábola que Jesus contou sobre o espírito mau? Quando um espírito mau sai de uma pessoa ele vaga pela terra e, não encontrando lugar para descansar, volta para a sua antiga casa. Ao chegar e vê-la limpa, sai, chama sete espíritos piores e todos ficam morando na mesma casa, tornando o estado atual da pessoa pior que o estado anterior (Mt 12, 43-45). O que Paulo está dizendo neste trecho de Filipenses é semelhante ao que foi dito por Jesus anteriormente. Tentarei ilustrar isso para que fique mais fácil de ser compreendido. Imagine um irmão que é viciado em pornografia. Sabendo deste problema o irmão faz um propósito de nunca mais acessar qualquer tipo de material pornográfico. Este irmão sente-se vitorioso durante uma semana. Contudo, passado este tempo, o irmão volta a cometer o mesmo pecado, só que desta vez de uma forma ainda pior daquela que ele cometia no passado. O irmão está profundamente arrependido e promete mais uma vez ficar longe da pornografia. Desta vez a vitória é maior: o irmão conseguiu ficar duas semanas sem acessar qualquer material pornográfico. Mas, infelizmente, isto não durou muito. Passada essas duas semanas o irmão voltou a pecar e o pecado foi ainda pior que na vez anterior.

A ilustração pode até ser simples, mas não deixa de ser verdadeira. Quantos são aqueles que enfrentam lutas similares a essa. Eu não estou falando de não convertidos. Estou falando de pessoas que já estão em Cristo mas ainda enfrentam batalhas para deixar alguns pecados de lado. Contudo, em alguns casos, não basta nós apenas deixarmos de cometer determinados pecados. É necessário que nós enchamos a nossa mente com coisas que ocuparão o espaço deixado por esses pecados. Coisas que, segundo Paulo, sejam justas, puras, amáveis, de boa fama, que tem virtude, etc.

Se era hábito uma determinada ação pecaminosa então é necessário que nós substituamos esta ação por uma outra ação justa, pura ou que tenha alguma virtude. Um homem que tem o hábito de mentir não deixará de ser mentiroso se fechar a boca. Ele apenas será um mentiroso que não está em ação no momento. Ele deixa de ser mentiroso quando, no lugar da mentira, ele começa a falar a verdade (Ef 4, 25). Um ladrão não deixa de ser ladrão quando para de roubar. Ele será visto como um ladrão que está sem oportunidade para praticar aquilo que ele esta acostumado a fazer. Contudo, deixará de ser ladrão quando começar a trabalhar com coisas boas usando as próprias mãos para ter como acudir o necessitado (Ef 4, 28). O que fala palavrão deixará de ter uma boca torpe quando começar a transmitir graça e edificação aos outros através dos seus lábios (Ef 4, 29).

O que eu quero dizer com isso? Quero dizer que se você tem algum pecado que é um hábito para você não apenas pare de pecar mas também utilize este tempo livre para praticar coisas opostas ao seu pecado, que trazem glorificação ao Senhor e que possam ser úteis ao próximo. Não deixe um espaço vazio no seu tempo. Ocupe-se para o Senhor pois assim, ainda que seu corpo esteja acostumado com o pecado, você poderá se sentir em paz com Deus pelo fato que você não peca mais nesta área. Mais do que isso. O próprio Deus oferece as ferramentas necessárias para que você deixe o pecado e faça coisas para a glória dEle: "Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis." (Ez 36, 26-27). Deus não apenas troca o nosso coração por um que é capaz de obedecê-lo como também derrama dentro de nós o Seu Espírito, que nos auxiliará a andar nos seus estatutos, a guardar e observar os seus juízos. Portanto nem mesmo o pecado é capaz de acabar com a paz concedida por Deus.

A Ele toda glória e louvor.


Autor: Cláudio Neto
Mensagem ministrada em Outubro/2010 na Comunidade Aprisco, do meu amigo Alexandre Godinho.


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